O cacau, amplamente reconhecido como matéria-prima do chocolate, revela um potencial ainda pouco explorado: a produção de diversos subprodutos artesanais. Essa diversidade foi evidenciada durante o 1º Seminário Estadual sobre a Cadeia Produtiva do Cacau, promovido pela Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR) em Caroebe, no sul do Estado.
A técnica da Agência de Defesa Agropecuária de Roraima (ADERR) e expositora da feira, Keully Freitas, apresentou as múltiplas possibilidades de aproveitamento do cacau. Segundo ela, da casca da amêndoa é possível produzir um chá com propriedades calmantes; a amêndoa seca e torrada origina os nibs, que podem ser consumidos puros ou adicionados a outros alimentos. A partir dos nibs triturados, obtém-se a pasta de chocolate 100% cacau, que, ao ser combinada com açúcar e óleo de coco, resulta em chocolate 50%.
Freitas, oriunda de uma família de produtores rurais, enfatiza a importância de disseminar esse conhecimento entre agricultores familiares e comunidades indígenas. “Nosso objetivo é demonstrar as potencialidades do cacau para o município e como as famílias podem agregar valor à produção. Mesmo com uma produção modesta, é viável realizar a pré-industrialização e comercializar os produtos localmente, utilizando o selo artesanal”, destacou.
Cacau além do chocolate
O polo cacaueiro de Roraima está situado na região sul do Estado, abrangendo os municípios de Rorainópolis, São Luiz do Anauá, São João da Baliza e Caroebe. Atualmente, 374 produtores cultivam aproximadamente 867 hectares de cacau. Mais da metade desses agricultores comercializa apenas as amêndoas secas, utilizadas na fabricação de chocolate.
Para produzir 1 kg de amêndoa seca, são necessários cerca de 3 kg de cacau em baba (fruto fresco), o que corresponde a 10 a 15 frutos, dependendo do tamanho e variedade. Diante disso, muitos produtores têm identificado oportunidades na produção artesanal de subprodutos, como trufas, achocolatados, licores e pastas.
A chocolatier Maria Eliza Nazarko Coimbra, convidada para palestrar no seminário, compartilhou sua experiência na diversificação de produtos a partir de sua plantação de 10 mil pés de cacau em Jaru, Rondônia. Entre os itens apresentados, destaca-se o mel de cacau, bebida energética produzida com a polpa da fruta. “A variedade é infinita: da polpa, extrai-se o mel; da casca, o chá; e do fruto, o chocolate. Basta criatividade”, afirmou.
O engenheiro agrônomo Kelton Oliveira, presente no evento, observou o entusiasmo dos produtores locais em explorar novas possibilidades. “Os agricultores de Caroebe estão sempre em busca de inovações. A diversidade de produtos apresentados na feira reflete a capacidade e o dinamismo da agricultura familiar na região”, comentou.
Palestras, rodas de conversa e práticas de campo
Além da feira de produtos, o seminário contou com palestras, rodas de conversa e intercâmbio de experiências entre produtores, estudantes e pesquisadores. Especialistas de diversos estados compartilharam conhecimentos para fortalecer o polo cacaueiro de Roraima.
A programação do evento, que se encerra neste sábado (3), inclui palestras sobre diversificação de produtos derivados do cacau e uma visita técnica a uma unidade produtiva na região, onde serão realizadas atividades práticas com orientação de instrutores especializados. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas presencialmente no local.