Com posição estratégica na fronteira com a Venezuela, Roraima se tornou, ao longo dos últimos anos, o principal destino de entrada de migrantes internacionais no Brasil. Agora, dados do Censo Demográfico 2022, divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), analisados pela Seplan (Secretaria de Planejamento e Orçamento), confirmam o que já era percebido nas ruas, nos serviços públicos e na dinâmica social do Estado: Roraima concentra 8% da população migrante do Brasil, sendo o Estado com a maior proporção de estrangeiros em relação ao total dos habitantes.
Em entrevista coletiva realizada na manhã desta sexta-feira, 27, com a presença da superintendência do IBGE, da OIM (Agência da ONU para as Migrações), da Acnur (Agência da ONU para Refugiados) e da Operação Acolhida, o Governo de Roraima revelou que 81.181 migrantes internacionais, estrangeiros e naturalizados, residiam no Estado em 2022, e que Roraima ocupava a quarta posição nacional em números absolutos, ficando atrás apenas de grandes centros populacionais como São Paulo, Paraná e Santa Catarina. O informativo completo está publicado na página oficial da Seplan.
O vice-governador Edilson Damião frisou que esse volume expressivo mostra que 8,0% da população migrante do Brasil está concentrada em um estado que representa apenas 0,3% da população do País.
“Roraima tem se mostrado um exemplo de resiliência e solidariedade diante de um dos maiores fluxos migratórios da América do Sul. Nosso povo acolheu, e o Governo está fazendo sua parte para garantir dignidade a quem chega, mas é preciso ampliar o apoio federal para enfrentar os desafios impostos por esse cenário”, ressaltou.
Edilson recordou que o impacto direto dessa realidade sobre os serviços públicos motivou o Governo de Roraima a mover, ainda em 2019, uma ação junto ao STF (Supremo Tribunal Federal), solicitando o ressarcimento da União pelos custos relacionados à imigração internacional no Estado.
“O Estado de Roraima até hoje recorre da decisão, está na esfera judicial. Já tivemos algumas decisões positivas, mas, graças ao trabalho sério e ao crescimento econômico que Roraima vem experimentando, conseguimos manter nossas políticas públicas e econômicas bem assistidas, desde saúde, educação, à assistência social”, destacou o vice-governador.
Venezuelanos representam quase totalidade dos migrantes
A pesquisa revela que entre os migrantes internacionais que chegaram ao estado entre 2017 e 2022, 98,24% são venezuelanos, reforçando o papel de Roraima como principal porta de entrada para quem foge da crise social, econômica e política no país vizinho. Municípios como Boa Vista e Pacaraima, na fronteira, concentram as maiores populações migrantes, sendo Pacaraima o município com maior proporção de estrangeiros no Brasil (36,31%).
População jovem e economicamente ativa define perfil da migração
A análise da pirâmide etária dos migrantes em Roraima mostra um fluxo composto, majoritariamente, por jovens entre 20 e 39 anos, com leve predominância feminina.
Para o superintendente do IBGE em Roraima, Welisson Cordeiro, o Censo 2022 trouxe uma fotografia atualizada e precisa da realidade roraimense. “A análise desses dados permite entender não apenas o volume migratório, mas também seu perfil e seus impactos sociais, além da importância de utilizar essas informações para orientar ações de gestão pública e políticas de integração”, comentou.
Maior proporção de migrantes do Brasil
Roraima lidera, de forma isolada, o ranking nacional de proporção de migrantes em relação à população residente. Cerca de 12,75% dos moradores do Estado são estrangeiros, índice quase dez vezes superior à média nacional e muito acima de Estados das regiões Sudeste e Sul. No Amazonas, por exemplo, esse percentual é de apenas 1,44%.
“Esses dados são fundamentais para o planejamento governamental. Com base nesse diagnóstico, conseguimos alinhar nossas estratégias com as reais necessidades da população, brasileira ou estrangeira”, explicou o secretário adjunto da Seplan, Fábio Martinez, ao reforçar o papel do órgão na articulação de políticas públicas que respondam ao perfil populacional do Estado.
Além da imigração internacional, o Censo 2022 aponta um crescimento de 3,16% na migração interna para Roraima, entre os anos de 2010 e 2022. Amazonas, Pará e Maranhão continuam sendo os principais emissores de migrantes nacionais. Conforme análise da Seplan, essa movimentação interna é influenciada por fatores como oportunidades de trabalho, expansão urbana e dinâmicas familiares.
“Estamos atentos também ao movimento migratório interno. Roraima vem se consolidando como um novo polo de oportunidades na Região Norte, o que exige preparo do poder público e investimentos planejados”, reforçou Fábio Martinez, destacando o papel da Seplan no monitoramento e análise permanente desses indicadores.