Cooperativas de Transporte em Roraima defendem reconhecimento e rejeitam rótulo de concorrência com empresas de ônibus

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Em audiência pública, representantes do setor cooperativista destacam papel social das cooperativas e pedem regulamentação justa para modelo alternativo que atende áreas esquecidas pelo transporte tradicional.

 

Foi em meio a um debate acalorado na Universidade Estadual de Roraima (UERR), na última quarta-feira (11), que cooperativas de transporte e empresas de ônibus se encontraram frente a frente para discutir o futuro da mobilidade intermunicipal no estado. O encontro revelou não apenas divergências de opinião, mas uma disputa de modelos: de um lado, o sistema tradicional de transporte coletivo; do outro, cooperativas que nasceram da ausência de alternativas viáveis para populações isoladas.

O Sistema OCB/RR (Sindicato e Organização das Cooperativas Brasileiras em Roraima) foi direto ao ponto: as cooperativas não são concorrência para as empresas de ônibus. “É fundamental esclarecer que as cooperativas não são empresas convencionais”, afirmou o presidente da entidade, Sílvio De Carvalho. Segundo ele, o cooperativismo é movido por princípios de solidariedade, autogestão e justiça social – valores que se contrapõem à lógica do lucro e da rentabilidade típica das empresas privadas.

Um modelo que nasceu da necessidade

As cooperativas de transporte alternativo em Roraima surgiram como resposta a uma carência histórica: a inexistência de linhas regulares em diversas regiões do estado, especialmente nas mais distantes e de menor interesse comercial. Em vez de competir com as empresas, essas cooperativas passaram a ocupar um espaço vazio, levando mobilidade a comunidades antes esquecidas.

“Culpar as cooperativas por um suposto ‘esvaziamento’ ignora a realidade do interior e transfere a responsabilidade das falhas estruturais das grandes empresas para quem sempre esteve presente”, destacou Carvalho.

Justiça regulatória e reconhecimento

Durante a audiência, o setor cooperativista alertou para o risco de que a futura licitação do transporte intermunicipal imponha regras iguais para modelos de negócios desiguais, o que poderia inviabilizar a atuação das cooperativas. “Tratar desigualmente os desiguais é um princípio básico de justiça”, disse o presidente da OCB/RR, cobrando uma regulamentação que respeite as especificidades do cooperativismo.

A importância dessas organizações vem ganhando apoio também no campo político. O presidente da Assembleia Legislativa, deputado Soldado Sampaio, e a presidente da Comissão de Transportes, deputada Catarina Guerra, demonstraram sensibilidade à causa e se comprometeram a buscar soluções que conciliem o direito da população ao transporte com a proteção dos trabalhadores cooperados.

Ano Internacional das Cooperativas reforça luta local

A luta das cooperativas roraimenses acontece em um momento simbólico: a Organização das Nações Unidas declarou 2025 como o Ano Internacional das Cooperativas. A decisão reforça a relevância global do cooperativismo como ferramenta de desenvolvimento sustentável, inclusão e fortalecimento comunitário.

“São lutas como essa da gente, em Roraima, que merecem respeito. Nossas cooperativas são um exemplo vivo dos princípios que a ONU busca promover”, afirmou Carvalho.

Diálogo, inclusão e compromisso social

O Sistema OCB/RR reafirmou sua disposição para o diálogo e a construção de uma regulamentação que garanta equilíbrio no setor. No entanto, condenou qualquer tentativa de deslegitimar o movimento cooperativista com discursos que ignoram sua contribuição histórica e social.

“O setor de transporte precisa de equilíbrio, inclusão, justiça regulatória e respeito à pluralidade de modelos”, concluiu Carvalho.

Em um estado onde a mobilidade ainda é um desafio para muitos, as cooperativas continuam a fazer o que sempre fizeram: chegar onde o lucro não chega, com trabalho, solidariedade e compromisso coletivo. E agora, com visibilidade ampliada, esperam que seu papel seja reconhecido como parte essencial de um sistema de transporte verdadeiramente inclusivo.